sexta-feira, 2 de novembro de 2012

Capitalismo X Socialismo Atualmente!


Comunismo e capitalismo ainda convivem no Laos.




Bandeiras com foice e martelo sobre gabinetes do governo no centro de Vientiane, capital do Laos. A entrada para o museu nacional é decorada com enormes esculturas glorificando a luta revolucionária dos trabalhadores. Oficialmente, este país pouco povoado, que já foi o foco de uma guerra secreta estadunidense, ainda é comunista – e tem sido assim desde 1975.

Em junho de 2009, o governo de Obama declarou que o Laos, o país que os Estados Unidos tentaram ao máximo evitar que tombasse pelo comunismo durante a Guerra do Vietnã, “deixou de ser um país marxista-leninista”. Após declarações similares nas últimas décadas em relação à China e ao Vietnã, a Casa Branca fez a afirmação sem alarde, em um memorando que cancelou a proibição de financiamentos a empresas laosianas por parte do Banco de Exportação-Importação dos Estados Unidos.


Entrada do Museu Nacional do Laos é decorada com estátuas glorificando a luta revolucionária dos trabalhadores.

Porém, em Vientiane, as notícias da mudança na política estadunidense foram desconcertantes para Klongmanee Boonliang, a simpática vendedora de uma livraria administrada pelo governo. Marx e Lênin ainda são os mais vendidos, disse ela. Todos os meses, escolas e escritórios compram de 400 a 500 retratos do tamanho de pôsteres dos dois e os penduram em locais de destaque. “O Sorriso de Lênin”, um dos muitos folhetos enaltecendo o líder soviético, também vende muito bem. “Ele foi uma pessoa corajosa e inteligente’, disse ela. “Todos aprendem com ele. Isso ainda é importante”.

Essas percepções conflitantes são comuns nesta antiga colônia francesa que se tornou ponto focal de grandes poderes durante a Guerra do Vietnã apenas para cair na obscuridade após o fim da Guerra Fria. Sem saída para o mar e montanhoso, o Laos tem a reputação de ser mais sonolento que seus vizinhos. Hoje, no entanto, o turismo e uma próspera indústria têxtil começaram a criar uma classe média urbana. As ruas de Vientiane são cheias de sinais do consumo excessivo: Hummers, Mercedes e outros carros de luxo.

Com a riqueza, veio também o desejo por liberdades ocidentais. Em uma academia no centro da cidade, um grupo de garotas adolescentes passa suas tardes praticando passos de dança que podem envergonhar adolescentes em Los Angeles, quanto mais os membros do Lao Politburo. O capitalismo está realizando incursões no Laos, mas dominar a ideologia pode exigir certa re-educação. O país deve abrir sua primeira bolsa de valores no próximo ano, um plano que levou jornais locais a publicar uma série de artigos apresentando um glossário de termos capitalistas (“Um mercado de ações é como qualquer outro mercado”, dizia um artigo esclarecedor. “Tudo tem um preço”).

O discurso oficial do governo é que o Laos é uma democracia de partido único – somente membros do Partido Comunista Revolucionário Popular do Laos podem concorrer às eleições. “A teoria marxista-leninista é prática e casa perfeitamente com a situação atual no Laos", disse o presidente Choummali Saignason em um discurso para veteranos militares este ano, relatado no jornal Vientiane Times, de língua inglesa.

Mesmo assim, alguns representantes do governo são entusiasmadamente empreendedores. Autoridades provinciais motivaram a construção de cassinos lucrativos que satisfazem os desejos de apostadores chineses e tailandeses (cidadãos do Laos não são permitidos). Em Vientiane, o Ministério de Relações Exteriores cobra um milhão de kip, que corresponde a cerca de US$ 129, por uma “taxa de registro” para a visita de jornalistas, e US$ 24 para cada dia de permanência no Laos – quantias altas para este país pobre.

Livros de Vladimir Lênin são vendidos em uma livraria administrada pelo governo. 'Obras de Marx e de Lênin estão entre as mais vendidas', diz vendedora.




Ameaça!


Projetos de hidrelétricas ameaçam o rio Mekong, no sudeste asiático.



Cerca de 65 milhões de pessoas dependem do Mekong.
Com nascente no Planalto Tibetano, o Mekong é décimo terceiro rio mais extenso do mundo. Percorre 4 mil quilômetros, passando por China, Birmânia, Tailândia, Laos, Camboja e Vietnã, onde desemboca em delta no Mar da China Meridional. Nestes países, cerca de 65 milhões de pessoas dependem do rio como principal fonte de água e alimento.

No mesmo Mekong, uma das bacias hidrográficas com maior biodiversidade do planeta e mais de 1200 espécies de peixes identificadas, onze usinas hidrelétricas estão previstas para serem construídas, sob aprovação dos governos do Laos e do Camboja (nove no Laos e duas no Camboja). A China, que já construiu quatro usinas no rio, também pretende construir mais quatro - incluindo a já iniciada Nuozhadu.
Na última semana, a Comissão do Rio Mekong (MCR, na sigla em inglês), organização integrada por representantes da Tailândia, Laos, Camboja e Vietnã (Birmânia e China entram como “parceiros de diálogo”), submeteu um relatório que recomenda a não-construção de nenhuma hidrelétrica no curso do rio nos próximos dez anos.
O documento, chamado “Avaliação Estratégica Ambiental” (SEA, em inglês), indica uma perda de até US$ 476 milhões por ano para a pesca na região, caso as usinas sejam construídas. As populações que vivem à beira do rio seriam as mais afetadas, em países como o Laos e o Camboja, que já são dos mais pobres da Ásia. Os projetos comprometeriam os recursos hídricos de dezenas de milhões de pessoas.
"Os principais projetos podem resultar em graves e irreversíveis danos ambientais, prejuízos na saúde a longo prazo e na produtividade dos sistemas naturais e perdas de diversidade biológica", aponta um dos trechos do relatório. Os projetos também cortariam a rota de migração do bagre gigante do Mekong, um peixe ícone da cultura do rio, bloqueando as áreas de desova, localizadas no norte da Tailândia e do Laos.
O baixo Mekong sofreu, no início deste ano, sua pior estiagem em 50 anos. O rio, na época do ano, tem habitualmente um caudal de até 500 metros cúbicos por segundo, mas estava com 250. Na ocasião, a maior responsabilizada pelos países do sudeste asiático foi a China, que construiu quatro hidrelétricas no rio, incluindo Xiaowan, que tem a mais alta represa do mundo: 292 metros de altura. Em abril, as autoridades chinesas rejeitaram as críticas, ao anunciar que a seca é “um processo natural” do Mekong. O país constrói desde 2006 sua próxima hidrelétrica, Nuozhadu, que deve ficar pronta até 2017.
Apesar disso, o governo do Laos também vislumbra a possibilidade de construir suas hidrelétricas, que poderia alavancar a economia do país, que vive em pobreza crônica, através da venda de energia para os vizinhos Vietnã e Tailândia. Ambos fazem parte dos chamados “Novos Tigres Asiáticos”, grupo de países que tiveram grande crescimento industrial a partir da década de 80, e têm grande demanda energética.

Turismo


Após quase duas décadas de isolamento, o Laos começa a abrir suas portas para o turismo --uma oportunidade sem paralelos para quem pretende vislumbrar a atmosfera da antiga Indochina. Fortemente bombardeada durante a Guerra do Vietnã, a "Terra de Milhões de Elefantes" --como a região era conhecida há seis séculos-- ainda mantém exotismo capaz de torná-la, sem exageros, um dos pontos altos de viagens ao Sudeste Asiático. Monges com vestimentas cor de açafrão, vastos arrozais e o sincretismo entre a arquitetura francesa e as construções tradicionais desta ponta da Ásia criam um cenário único, ainda praticamente intocado.